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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Crônica Reflexiva de um Ex Clubber que Perdeu seus tótens


Sou do tempo em que tecnologia de ponta começou a surgir no país como um luxo da finada classe média. Primeiro vieram os bípes, telefone celular era um tijolo que só alguns ricos podiam se da ao luxo e os computadores domésticos estavam longe de ser parte dos modelos de eletrodomésticos usados pelas famílias do Brasil. Hoje em dia você vê pessoas de todas as classes com todos os modelos de celulares, mp3 e etc.

Quando eu era adolescente idolatrávamos bandas e rodas de violão. DJ era como um técnico de mesa de som especializado em música, mas jamais “artista”.










O primeiro club que eu fui era o “Mingau”, matinê dançante que acontecia no Ipanema club de Sorocaba das 18h00 as 22h00, um ou dois domingos por mês. Vendia Keep Cooler (bebida alcoólica) para crianças de nove a dezesseis anos e sempre terminava tocando “teikemaibrendouê....”, tema do filme Top Gun. Sempre!

Era á hora de dançar de rosto colado falando no ouvido, isso não deve existir mais.                                                                                                              
                                                        
                          
































Na metade da década de noventa, foi quando surgiram as primeiras festas raves do Brasil. O conceito do bailinho house music, ou da discoteca ganhava ares ripes, surfistas e cibernéticos em meio a cenários naturais regados a muitos decibéis e velhas novas drogas sintéticas com novas releituras. Gays e Héteros dividindo a mesma pista de dança sem brigas e em harmonia. Uma avalanche de cores em panos e temas flúores familiarizavam temas como cogumelo, duendes, Shiva e Ganesha.


Da minha parte e da parte de muitos dos amigos que estavam comigo testemunhando o nascer desta “cena eletrônica”, era de dar orgulho e alegria ver e sentir aquilo que a nossa geração estava criando.














Uma cultura longe dos traumas e dos sentimentalismos da turma de 1964 e daquela geração de jovens de nossos pais. 

Queriamos ser livres da esperança do “grande amanhã” e “quem sabe faz á hora” e todo aquele passado sentimental energético que herdamos, mas que já vinha acontecendo desde antes de termos nascidos.













Tinhamos o novo! O incriado até então. Uma dança tribal independente onde não precisávamos de par, pois estávamos com todo mundo, isso era a pista. O nascer do sol como ápice da festa e não mais como o final. O fim do mito fonográfico, do cabeludo que não toca porra nenhuma, vomita no microfone, peida na guitarra e vende milhões. Os ruídos da natureza misturados aos ruídos das industrias transformados em ritmos, melodia, música.

Foi essa a visão que tivemos, eu e talvez muitos sensíveis naquelas primeiras festas, quando tudo era novidade.







 Pensar hoje na influência da tecnologia em nossas vidas me faz lembrar meu professor Wilson Ferreira, autor do livro: “O Caos Semi-Ótico”, que dizia que: Toda tecnologia nasce de finalidades bélicas antes de se tornar doméstica.











Alguns anos depois eu fui pra Bahia e encontrei a visão que eu temia. Aquele sonho de liberdade cultural através do cruzamento da natureza com a tecnologia pacífica em música e arte que criávamos, tinha se transformado numa horda de escravos coloridos tomadores de cápsulas e adoradores de técnicos de mesa de som especializados em música, ops, quer dizer DJ.

















Em meio a uma praia suja, cheia de garrafas plásticas, restos de alimentos e embalagens pela areia, barracas de camping, gente de todo tipo tentando imprimir uma liberdade psicodélica sem nenhuma disciplina, sem nenhuma consciência sobre o que é respeito. Uma porção de jovens agindo como adolescentes e uma porção de adolescentes querendo agir como jovens. Pessoas de treze, dezoito anos sem orientação, sem propósito, sem educação. Tinham apenas drogas, dinheiro e uma vontade suicida de dançar sem nunca parar. Três, quatro dias seguidos, sem sono, sem banho, sem comida, sem higiene, apenas nutridos pelas impressões, pelas substâncias estupefacientes e por segredos guardados dentro de corpos, caras e bocas que desfilavam para a multidão.













Irônias da vida, Ibiza é a grande Meca do que tudo isso representa. A chamada “cena Eletronica” tem aqui a sua estampa publicitária a nível mundial.








O que eu posso dizer disso é que estar aqui e testemunhar o resultado dessa cultura duas gerações depois é preocupante. Queria poder dar a dimensão do como funciona o raciocínio e o senso critico do jovem europeu classe média, mas não ouso. Traduzo-os de maneira coletiva como: Ateus, sem esperança, sem sonho e totalmente disposto a gastar todas suas energias para distorcer a consciência tranqüila para estados mais acelerados, psicodélicos e confusos. O egoísmo é tido como algo super natural, já que todos podem trabalhar e comprar aquilo que desejam para ser “feliz”.












Vale lembrar que as festas e after hours das 06h00 as 18h00 estão proibidas aqui na ilha e isso aconteceu porque estavam perdendo o controle. Pessoas morriam de overdose nas pistas de dança, o corpo era coberto e a galera continuava dançando. Não me lembro de estar em uma festa e alguém ter morrido nela, mas quando eu freqüentava festas, sinto que se isso tivesse acontecido, a festa teria acabado.





Eu sei que há muita coisa boa nas festas, que são necessárias para reunir gente divertir as pessoas e que há muita gente boa e bem intencionada produzindo festas, fazendo isso com amor e com uma vontade sincera de proporcionar um entretenimento a preços justos e saudáveis.


 



Porém, festa significa ter algo para celebrar e para aqueles que se consideram cidadãos do mundo e não estão limitados a uma região geográfica do globo, sabemos que: "Há muito trabalho para se realizar nesse planeta e quase nada para se comemorar".









A indústria de festa virou o atraso da juventude e o boicote do amor, do sagrado e do eterno. Enquanto meia dúzia de empresários, umas dezenas de dj´s, traficantes e mais alguns promotores enriquecem da noite pro dia, a juventude européia ( que serve de espelho para a juventude mundial) empobrece, vai a banca rota se reunindo todas as noites em pequenas caixas negras fechadas para: Respirar fumaça e suor, ficar surdo pra ouvir, sem voz para falar, fedendo, suado, sufocado, pagando preços absurdos por produtos que valem até mil por cento menos do valor que cobram nesses lugares (uma cerveja custa 10, 12 euros em qualquer discoteca e no mercado alguns cêntimos, uma água 7 euros e pode ser comprada por 0.6 centavos). E o pior é que essas pessoas se sentem inteligentíssimas fazendo isso e crêem que o resto do mundo todo as inveja e gostaria de estar fazendo o mesmo.


Eu não sei se essas reflexões e informações importam para as pessoas ao redor do mundo e se isso faz diferença para elas. A minha conclusão final é:


"Passei a minha adolescência e juventude desejando ser e estar com pessoas e fazer coisas, idolatrando formas de ser e opiniões que hoje me vejo integralmente em contato. E a ótica de quem está de dentro do olho do nevoeiro do furacão sem dúvida é outra; mais cru, menos glamourosa, simples e objetiva".

Eu não admiro mais essas pessoas. Estava enganado a respeito da felicidade, propostas e alegria delas. Percebi que A grande maioria das pessoas que deixa suas casas e sai pela noite buscando diversão em discotecas e bares está em fuga de si mesmo e da realidade que criou pra si. E tenta através da reprodução de ciclos de humor positivos e negativos e de uma padronização massiva dos gostos, dos ritmos e das impressões se sentir integrado, menos só e menos responsável pelos fracassos e pela preguiça e sempre se espelhando e se comparando com gente que está mais podre, mais embaixo, mais “acabadinha”.









Da mesma maneira que durante o dia seu corpo se energiza e está desperto elivre para realizar as atividades que você busca e realiza, a noite é o dia do Espírito.

À noite, foi feita para que o corpo físico material grosseiro relaxe; e o corpo sutil se torne lúcido, esteja um pouco livre do cárcere em que se encontra durante o dia. E assim possa habitar e visitar as diferentes dimensões a que tem acesso.


É maravilhoso pensar que: O Espírito numa atitude de doação se eclipsa durante o dia, para que o corpo material grosseiro habite o reino material de Satwas e rajas (manhã e tarde). Em troca disso, o corpo sutil tem a suas horas de liberdade a noite, (em Tamas) permitindo assim que o corpo material grosseiro adormeça se re-energize e mais que tudo, se proteja das influências energéticas densas e confusas que fazem parte das trevas e do reino energético de Tamas. Tudo assim, simples e clássico como a vida pode, deve(?) ser.

R.M. - Medico Animosico - Outubro de 2009




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