– Movimento 15M e Os Rebeldes de Espanha 2011
Ao subir á famosa “rambla” em direção a praça central conhecida como Catulunya, um aperto em meu coração se fez presente e meus olhos marejaram. Algo mais forte dentro de mim me atraía até as massas. "Logo eu" que sempre fui contra a mentalidade de rebanho e sempre afirmo que o senso comum está errado, ou ainda que “muitas pessoas concordando sobre o mesmo assunto é sinal de insanidade”. Mas dessa vez, Dessa vez eu estava errado e eles certos e ao perceber isso uma lágrima rolou por minhas pálpebras e escorreu pelas bochechas.
Eu estava testemunhando o despertar da humanidade contra seus escravizadores (Como tanto queria).
Aquelas pessoas juntas, como eu há alguns anos atrás sozinho, estavam compreendendo a armadilha do sistema e o que é o capitalismo que sustentamos.
A Maioria jovens estudantes tomando cerveja, compartindo lanche, fumando, sentados, tocando violão, cantando, alguns mais alterados que outros. Alguns ali com se fosse uma grande festa, simplesmente seguindo a massa. Mas de fato orientados por cabeças pensantes que hoje estão dentro das universidades e nos movimentos sociais. Havia uma ameaça de despejo dos estudantes por parte das autoridades, que através de uma imprensa golpista e interessada, deram o “ultimatum” de abandonar o local até a meia-noite de ontem e eu, graças a minhas heranças de vidas passadas recheadas de terror e medo, tinha receio de um banho de sangue, como recado claro das elites a respeito de seus planos para o futuro da humanidade.
Graças a deus eu estava errado. Hoje pela manhã ao consultar os periódicos, eles haviam vencido e a polícia decidiu não fazer nada. Os anos de guerra civil em Espanha (de 1936 a 1939 e depois a 2ª guerra em 1942) ensinaram o povo espanhol a ser civilizado e respeitar a vontade das massas.
Certamente que dentro das corporações policiais existem simpatizantes dos movimentos e por detrás de cada farda, existem seres humanos que não querem se tornar assassinos simplesmente por ser o corpo de segurança das Elites. Apesar do clima de festa e algazarra, o acampamento na praça catalunya estava bem orientado e bem organizado.
Em homenagem aos países que mais sofrem ou sofreram com o governo capitalista mundial de banqueiros pró-sionistas, o local estava dividido e orientado em três principais zonas chamadas: “Tahmir”, “Islândia” e “Palestina”. Em cada parte dessas zonas e “Ilhas” feitas na praça, pessoas organizadas discursando e buscando formas de se criar um novo sistema mais justo para todos.
Milhares de cartazes expressando revolta contra paraísos fiscais, contra os bancos. Pedindo e exigindo uma democracia de verdade ("Democracia Real Yá").
Textos de José Saramago sobre a mentira da democracia. Frases de Martin Luther King. Barracas, colchões, tendas improvisadas. Grandes cozinhas para a distribuição de alimentos.
A resistência esta formada. Eles não arredarão o pé da praça até que as elites paguem pela “crise” que eles afirmam não ser “crise”, mas a essência do capitalismo que querem destruir e estão destruindo.
“A geração #” Assim é chamada graças ao suporte que as redes sociais promoveram para a comunicação e divulgação da situação da revolução em cada estado de Espanha. Em algumas cidades são centenas (300, 600, 500) acampados, em outras, são milhares (8 mil pessoas na praça catalunya essa noite e na Porta do Sol em Madrid havia ainda mais), isso sem contar os curiosos, turistas, simpatizantes, xeretas e outros transeuntes que ali param, querem compreender o que passa, doam assinaturas, participam, sorriem e se emocionam, dão palpites, se sentem vivos e úteis.
Ontem pela tarde pude testemunhar a discussão de jovens sobre “O que fazer” quando a polícia viesse pela noite, uma parte vestido de polícia, a outra fazia o povo. Um verdadeiro exercício de psico-drama para trabalhar o medo e transcender a causa. Alguns queriam bailar, outros acreditavam que deveriam estar todos nus. O medo era real, mas não maior que a alegria, a união e a fé em dias melhores.
“Por incrível que pareça, queremos apenas viver”. “Já Não nos controlam”, “Paraísos Fiscais Indecentes” entre outros dizeres em idioma espanhol, catalão e inglês, recheavam o solo e as árvores da praça.
Curioso: Toda Manifestação é assistida por um imenso outdoor da multinacional Hyundai, (e ao lado o símbolo da nike, um dos maiores ícones do capitalismo) onde um gorila segurando seu filhote debaixo dos dizeres em catalão: “Te arriscas a pensar que as Feras Não Amam”, “Uma outra forma de sentir e pensar é possível”.
Quanta ironia, pensei, o outdoor de uma multinacional coreana de automóveis (e da nike, uma das empresas que mais escraviza asiáticos no mundo), que escraviza pessoas em fábricas, fazendo ás vezes de cenário de fundo de uma revolução popular moderna e pacífica, onde a inteligência e o conhecimento são munições e armas mais poderosas que chumbo, gás lacrimogênio e balas de borracha.
Eu poderia fazer milhões de paralelos com cada sentimento que passa dentro de mim, com o conhecimento que tenho de história e as coisas que tenho testemunhado nos últimos 3 dias. Mas minha emoção não permite que eu escreva sem estar alterado. Minhas mãos tremem, meu coração transborda. Meus olhos lacrimejam e meu peito chora.
Minha maior alegria é estar aqui compartindo esses momentos com outros seres humanos que não me conhecem, jamais me leram ou me escutaram, mas me compreendem e compartilham de minhas causas.
Minha maior tristeza, acompanhar os principais e maiores órgãos de imprensa de meu país, não dizerem absolutamente NADA! Os perfis da Folha de São Paulo, do Jornal o Globo e da famigerada revista Veja no twitter, não tocam no Assunto.
Deixam mais que claro que trabalham para os interesses pró sionistas de banqueiros e multinacionais que querem escravizar a raça humana e diminuir a população global em pelo menos um terço.
Não bastando isso, no bate papo do facebook, encontro um amigo brasileiro, carioca, dono de restaurante em Madrid, o Kiko, pessoa que eu estimo e respeito muito.
O kiko está chateado com tudo isso, por que graças aos “panelaços” as pessoas não conseguem dormir e o movimento do restaurante dele, talvez tenha diminuído.
Oras Kiko! A raça humana despertando da escravidão e o Você de olho na caixa registradora de seu bar? E ainda vem me dizer para eu acompanhar o trabalho do Ricardo Gama, carioca que é o maior desafeto do governador do estado do rio e que acaba de tomar 5 tiros, por lutar por justiça igual as pessoas aqui tem feito, (diga-se de passagem de maneira muito mais eficiente e inteligente que o pobre e desesperado Ricardo que mais parece amar o piquete e o sensacionalismo que a solução dos problemas da sociedade e o respeito ao próximo).
Quanta loucura, quanta indiferença que provam apenas que o capitalismo é uma ilusão que afeta as pessoas em forma de enfermidade, mas eu continuo respeitando e amando meu amigo, que parece realmente não ter compreendido e desfrutado a vida além do balcão em que todos os dias, duro e forte trabalha.
Espero que uma sensibilidade maior possua o coração do Kiko e abra seus chakras, assim como dos banqueiros elitistas, responsáveis pela morte, pela fome e pela guerra em nosso mundo.
Abaixo de tudo, estou postando a todos o brilhante e emocionante texto de José Saramago Sobre "Democracia". É longo, mas vale a pena Ler.
Obrigado a todos meus leitores e amigos que acompanham o blog e permitam que eu possa dividir com vocês esses momentos importantes de minha vida e da evolução da raça humana. Obrigado Amigos e companheiros de luta.
Avante Espanha! A Revolução está Armada! Somos a raça humana! Somos a Liberdade! Somos A Verdade do Amor e das Inspirações de uma sociedade justa, pacífica, lúcida e benemérita para todos, e não somente para privilegiados.
Que Deus Abençoe acompreensão de todos:
Namastê,
Ruy Mendes, “do front”: Maio de 2011.
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-se para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressucitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido ... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável a vida e o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste. Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma de suas negações. Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenha dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-se nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização econômica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização econômica.
E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingênuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isso é verdade, mais é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, que o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portando os primeiros responsáveis, se vão tomando cada vez mais em meros ?comissários políticos? do poder económico, com objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder conviverem, para depois, envolvidas nos açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes.
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos tome demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.
José Saramago.